Audre Lorde (1934–1992).

Te lendo em monólogo, sinto vontade de conversar, Audre. — 29/08

Anna Beatriz Rodrigues
2 min readAug 29, 2024

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Isolamento e deslocamento. O amargor desses sentimentos é algo que já provei muitas vezes no fundo da minha língua.

Não por falta de amigos. Tenho o suficiente para me sentir amada e bem-quista. Mas por falta de pessoa(s) que me entenda(m) a nível de carne. Não apenas que me escutem e consigam racionalizar minhas palavras e compreender de onde vem minhas emoções. Mas que me saibam, à nível de carne. Por se saberem, também.

Ser mulher, negra e lésbica, muitas vezes me fez sentir em não-lugar. Me fez sentir entendida sempre em partes. Já me senti negra demais para espaços feministas embranquecidos; já me senti mulher demais para espaços lgbtq+ dominados por homens gays; já me senti lésbica demais para espaços negros muito heterossexuais.

E que eu não seja mal entendida, por favor, amo, sou grata e aprendo muito com amigas brancas feministas, amigos gays e amigos e amigas negros heterossexuais, eles são minha comunidade e meu suporte nesse mundo. Mas, muitas vezes, me senti correspondida e entendida apenas parcialmente, quando falei das múltiplas coisas que me atravessam. Não por culpa de ninguém, é só que fazer parte de tantos grupos historicamente reconhecidos como O Outro, torna difícil se sentir vista.

Por isso gosto muito quando Audre Lorde fala:

“Eu dei uma breve palestra esta noite sobre ‘Sisterhood and Survival’, o que significa para mim. Comecei me identificando como uma poeta negra, feminista e lésbica, apesar de ter me sentido insegura, o que é provavelmente a razão pela qual eu tive que fazer isso. Expliquei que me identificava assim porque, se houvesse outra poeta negra, feminista e lésbica ao alcance da minha voz, eu queria que ela soubesse que não estava sozinha.” — Irmã Outsider, Audre Lorde.

Esse dia 29, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, me fez pensar como me senti parcialmente invisível por boa parte da minha vida, porque muito do que sou sempre esteve na sombra da história. Meu maior ato de rebeldia é ver e ser vista.

Seguimos.

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Anna Beatriz Rodrigues

Fascinada pela vida, o vivo e o viver desde que percebeu existir, se tornou bióloga. Descobriu que o fascínio era paixão, se tornou poeta. (ig: @anna.rodds)